Andar de baloiço, um dos novos prazeres da minha vida…
Não será bem novo, é mais um prazer (re)descoberto! Era uma das brincadeiras preferidas da minha infância … seis anos … para trás não me lembro. Recordo nitidamente o baloiço em Moçambique (onde nasci). Em frente a uma capoeira enorme, cheia de galos, galinhas, pintos, patos, perus, aves e uma tartaruga grande que também andava por ali! O Mainato na casinha do anexo fazia o seu almoço: um qualquer guisado e “chima” (farinha de mandioca) para acompanhar. Enrolavam bolinhas desta pasta com as mãos, molhavam na panela do guisado e era também com as mãos que comiam! Lembro-me que não gostava daquela papa, mas observava. Minha irmã, três anos, devorava aquilo com um entusiasmo como se degustasse um manjar dos deuses! Os criados, sempre preocupados com os meninos, diziam à minha mãe: “Senhora, a menina quer almoçar connosco, pode? Não pára de comer…”.
De pouco adiantava uma resposta negativa. Desde pequena, a minha irmã sempre foi muito decidida, voluntariosa e ninguém a demovia dos seus intentos! Uma personalidade forte e marcada … carneiro!
Agora também tenho uma casa com um baloiço…
Desde que começou o turbilhão de emoções diferentes, contraditórias, ambíguas, desejos de ventos de mudança, insatisfação… um querer mais de qualquer coisa da vida… sem saber o quê e porquê… o questionamento do que se fez, do que passou, do que se tem, do que se quer daí para a frente… constatar o estado da ALMA! Desde esta altura, o que mais me conforta é andar de baloiço!
E aqui estou presente! Balanço as pernas, virada para um horizonte que se avista longínquo… o sol na cara, cabelos soltos ao vento… ali fico. Só eu e a natureza… por momentos! Um prazer não só para a alma, mas para os sentidos! Cheiro, audição, tacto, paladar, visão.
Chega a Primavera e, neste baloiçar, sinto o cheiro das flores de laranjeira, da glicínia centenária que cresce vigorosa envolvendo a pérgola que trará momentos de frescura no Verão, as rosinhas amarelas, pequeninas, ao lado dos destroços do que foi em tempos uma capoeira, os antúrios que despontam por todo o quintal… Ah, e o canto dos pássaros no quintal… os da manhã são diferentes dos da tarde e da noite… substituem-se ao longo do dia. Brindam-nos com música para que não nos falte o alento à alma. O som das folhas da palmeira roçando-se umas nas outras quando lhes dá o vento. O riso dos meus filhos a brincar por ali, as gargalhadas genuínas deles… estão felizes!
O sol e o vento na cara… é um prazer para o corpo. E aquela vertigem que sentimos na barriga quando o baloiço vai mais alto! A seguir comer uma laranja, descascá-la com as mãos, o seu sumo escorrendo entre os dedos e cantos da boca…
E a paisagem magnífica… o horizonte lá longe, como que deixando uma vontade de conhecer o que está além daquela linha. O que estará ali? Oh, curiosidade … muita!
Porque partilho aqui as minhas recordações e visitas ao quintal?
Aprender a ficar no momento presente, a valorizar as pequenas coisas, os pequenos grandes prazeres, foi uma prática que aprendi no programa para me tornar Instrutora Gentlebirth, com o curso de Mindfulness e a utilizar a App que as mães/casais utilizam durante a gravidez, trabalho de parto e parto.
A utilização desta App era um requisito para me tornar instrutora e foi o meu maior receio. Eu tinha uma crença, muito marcada, de que não conseguia meditar, acho que tenho uma mente demasiado analítica, não sei, uma vida muito agitada e intensa, algumas ansiedades na gestão de todos os papéis que desempenhamos na vida. No meu caso Mãe de três filhos, esposa, filha, irmão, Enfermeira Parteira…e poderia continuar. Tal como todas as outras pessoas, cada uma com a vida a correr…e às vezes parece não fluir!
Era, e ainda é, difícil para mim não pensar em coisas… E às vezes gostaria de abrandar e de desconectar, pois o cansaço por vezes faz-se sentir. Percebi com a prática do mindfulness que eu tenho que trabalhar comigo primeiro. Levou-me num caminho de desenvolvimento pessoal, que eu nem sabia que tinha que percorrer.
A prática dos exercícios deixou-me gentilmente perceber e sentir que quando permitimos que nossa mente vagueie o tempo todo, ela geralmente vai para lugares stressantes, mas que a atenção plena (mindfulness) ajuda-me a permanecer no momento presente com mais frequência e a organizar-me melhor.
Eu tinha uma preocupação absurda, crença talvez, que tinha que parar a minha mente, mas isso é impossível. O que queremos ver, é o que está a acontecer na nossa mente e perceber quando isso vai para lugares stressantes.
O que me cobrava não era, de todo, exequível. Atenção plena sem compaixão por mim mesma, não era bom. Acontecia que quando eu começava a perceber para onde a minha mente ia vaguear, eu acabava por me julgar e era muito autocrítica.
E no final quem ganhou fui eu. Que cada vez dou mais importância à efemeridade da vida que é passageira e cada vez tenho mais presente que cada instante é único e é imperioso cada instante ser vivido intensamente.
mindfulness
ou atenção plena, é um estado de atenção ao momento presente, que se cultiva através da prática, que permite aceder, no seu dia-a-dia, a mais tranquilidade, calma e paz interior. Potencia o acesso ao momento presente, através de práticas de meditação.
No mindfulness a pessoa está focada, com total atenção no seu corpo, nas suas reações ao que está acontecer no momento, aceitando a situação em que está, sem julgar ou querer alterar qualquer coisa.
Sentir ansiedade é uma condição inerente à vida humana e que permite que o indivíduo se prepare para situações de ameaça e perigo, mas quando os níveis de ansiedade ou preocupação são desproporcionais às situações que os geram, caracterizam-se então os transtornos de ansiedade. Os programas de mindfulness são claramente eficazes nos transtornos de ansiedade isolados ou quando se apresenta com sintomas de depressão.
Uma maior regulação emocional é o principal benefício do mindfulness, ou seja, as pessoas conseguem entender e lidar de forma mais eficaz com os seus sentimentos e emoções. A prática também ajuda as grávidas a diferenciar ameaças reais de crenças e ideias equívocadas sobre a realidade.
Tanto eu corria, tanto vasculhava, tanto pesquisava para querer saber e conhecer, cada vez mais, para tentar encontrar a melhor forma de tranquilizar as Mulheres nesta fase tão importante das nossas vidas, de lhes passar confiança… cursos atrás de cursos ! E tenho tudo cá dentro.
Encontrei o GentleBirth. É aqui que quero estar, para te dar!
Valeu a pena utilizar a App GentleBirth e finalmente, compreender que pensar está bem! Não meditamos para parar de pensar, mas para perceber o que pensamos! Portanto, é importante dar as boas-vindas a tudo que encontramos nas nossas mentes.
5coisas que gostaria de dizer sobre o GentleBirth às grávidas que leiam estas palavras de uma parteira que aplicou o mindfulness sem estar grávida:
_ fornece informações científicas e atualizadas sobre obstetrícia e neurociência;
_ dá ferramentas valiosas para usar durante a gravidez, parto, pós parto e toda a vida;
_ desenvolve uma prática de atenção plena que é um ganho ao longo da vida;
_ utiliza a prática da hipnose de forma a trabalhar a mente para lidar com situações que podem acontecer no trabalho de parto, parto e pós-parto;
_ desenvolve na grávida/casal um espírito crítico sobre a gravidez, parto, pós-parto, parentalidade e as próprias relações afetivas.
No decorrer da vida, cada período importante do seu percurso traz um conjunto único de oportunidades e desafios. A gravidez é um período de crescimento e desenvolvimento que apresenta desafios físicos e psicológicos importantes para as mulheres grávidas e os/as seus/suas companheiros/as.
Vários estudos revelam que muitas mulheres participam em aulas de parto (e os pais) enquanto estão grávidas. Num dos que li, os investigadores avaliaram a eficácia de um parto baseado na atenção plena (mindfulness) e um programa de educação dos pais. Os resultados indicaram que a participação no programa de mindfulness foi associada a mudanças positivas para as mulheres.
_ A ansiedade da gravidez diminuiu significativamente após a participação no programa.
_ A atenção plena, principalmente a não reatividade, e as emoções positivas aumentaram significativamente após a participação no programa.
_ Aprender a ficar no momento presente foi a prática aprendida no programa que as mães mais utilizaram durante o trabalho de parto e parto.
_ As mães notaram que trazer a consciência plena para as interações com seus conjuges e bebés e para sua própria reatividade emocional foi muito benéfico.
Muitas grávidas acham que o parto natural ou vaginal será impossível para elas pela sugestão das histórias de outras mães que, inconscientemente, nos levam a acreditar (ou convencem) de que vamos acabar por ter uma epidural e, provavelmente, uma cesariana, ou que teremos lacerações ou episiotomia. Esses medos estão instalados no coração. Então, podem fazer algo diferente.
Descobrir a prática de meditação mindfulness. Um tempo para parar e respirar. Um tempo para entrar em contacto consigo. Com grandes benefícios para se sentir mais tranquila e presente.
Decidir substituir os medos pela verdade. Substituir pensamentos negativos por positivos. Para fazer isso, é importante aprender tudo sobre como outras conseguiram o parto/nascimento dos seus sonhos. Procurar educação que dê conforto em todos os pontos do parto natural ou não.
resumindo algumas coisas que podem fazer para amarfanhar os medos sobre o parto/nascimento
_ substituir os seus medos pela verdade, educa-te para ganhares a confiança de que precisas.
_ ler, aprender, ouvir. Repetir.
_ substituir os medos pela verdade.
_ mudar o pensamento negativo para o pensamento positivo.
TU CONSEGUES FAZER ISTO
A vida é tão efémera que eu não me dou mais tempo para sentir medo, vergonha, ou mágoa ou raiva por qualquer coisa que eu tenha dito a alguém ou alguém me tenha dito a mim. No final, são somente momentos. E escolhemos a cada instante como vamos sentir-nos em relação a eles. Sabem o que escolho? Ficar em paz comigo. Aprendi a auto-compaixão…
Deixo-vos um poema do Grande Poeta português:
“Eu amo tudo o que foi,
Fernando Pessoa
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errónea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.”
Grata a todas as pessoas que tenho encontrado neste caminho.
-Paula Alexandra Oliveira-
enfermeira parteira
P.S. Ah, e quando forem ao quintal, sentem-se confortáveis, costas direitas, pés apoiados no chão, fechem os olhos. Inspira e expira lenta e profundamente…e sente… Que emoções e pensamentos te chegam?