Super Mãe em Ação. Alvo a abater: Cólicas!

Se os problemas da maternidade fossem ao “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente, com certeza, já sabíamos quem seria o Diabo. AS CÓLICAS!

Qualquer mãe vive amedrontada com a possibilidade de o seu bebé ter cólicas e não conseguir acalmá-lo. Mas não te preocupes, depois deste artigo, tenho a certeza que vais estar mais do que preparada para um duelo final com as cólicas do teu bebé!

Mas antes de enfrentá-las, temos de perceber que nem sempre a culpa do choro do bebé é das cólicas. Aletha Solter é uma das mais prestigiadas psicólogas e já lançou vários livros para ajudar pais a lidar com bebés e ter outra visão daquilo que realmente está a acontecer. Segundo ela, existem duas razões que justificam o choro: “uma delas é para comunicar uma necessidade ou desconforto” e a segunda razão “é mais difícil de compreender”. 

Então, antes de desesperares porque achas que ele está com cólicas e o teu mundo vai acabar, aquilo que deves fazer é satisfazer as suas necessidades o mais rápido possível.

Desde pensares quando foi a última vez que ele comeu e se já está na hora de o fazer novamente, colocá-lo a dormir porque a última sesta já foi há muito tempo, verificares se a fralda dele não deve ser trocada e por último, mas talvez aquela que muitos pais se esquecem, dispensares toda a tua atenção para ele e mimá-lo muito!

Ouvimos muitas vezes que devemos deixar o bebé a chorar sozinho e não ir lá para ele não ficar mimado ou mal habituado. Isso está completamente errado! Eles ficam mais calmos quando há estimulação à sua volta. Imagina que estás 9 meses sozinho numa ilha deserta…provavelmente a primeira coisa que vais querer é falar com muitas pessoas e contar tudo aquilo que fizeste! Acontece o mesmo com um bebé, ele está 9 meses no útero, de repente cai de pára-quedas num sítio novo e tem de se ambientar. Por isso, aquilo que ele mais precisa é que o ajudes a compreender tudo o que está a acontecer à sua volta e estejas lá com ele. Eles gostam tanto de estimulação e atenção, que se levares um bebé a uma festa, há uma grande probabilidade de ele adormecer porque se sente seguro e relaxado.

Bebés e crianças são macaquinhos de imitação. Se ele vir que estás chateada, ele também vai continuar chateado. Mas pelo contrário, se utilizares uma voz calma, quase como quem conta um segredo, ele vai acalmar-se contigo e partilhar da tua tranquilidade. Por exemplo, se todas as noites cantares para ele antes de adormecer, ele vai juntando as peças, a pouco e pouco e percebe que sempre que vens cantar para ele, é hora de ele ir dormir.

Achas que ainda precisas de mais umas quantas dicas extra para acalmar o choro do bebé?

Vou partilhar contigo o Modelo do Cinco S, criado pelo conhecido pediatra HarveyKarp. Diz em voz alta, carregando nos Ssss…:

Swaddle / Side Position / Shush / Swing / Suck”.

Esta técnica que consiste em 5 passos é umas das melhores formas de acalmar o bebé, porque ativa o reflexo calmante que ele vive no ambiente uterino.

Mas atenção! Nem todos os bebés precisam dos 5 Sss.

O primeiro passo consiste em Swaddling, ou seja, envolver, enrolar o bebé, não muito apertado, numa manta leve e respirável, para que não fique muito aquecido, sempre com cuidado para não lhe tapares a cara. É óptimo porque o ajuda a sentir-se calmo e sonolento, imita o quartinho apertado do útero da mãe e evita que o bebé acorde sozinho devido ao reflexo de moro (sobressalto).

O segundo passo é o Side or Stomach Position é uma posição lateral ou abdominal em que a criança é colocada sobre o nosso antebraço para o lado esquerdo para ajudar na digestão, ou de estômago para dar um suporte tranquilizador. Colocar o bebé de lado ou de bruços evita o movimento dos braços e pernas e evita que ele sinta que vai cair, é semelhante a como se encontrava no útero. Quando um bebé está de barriga para baixo, não o deixes sozinho, nem por um momento.

A seguir, o terceiro passo é o Sushing, é fazer ruído, que é nada mais nada menos do que dizeres “Chhhhh”, mas na mesma altura que ele está a chorar, mais alto que o choro do bebé. Sem medos, tu consegues! Sê persistente.

Depois, o quarto passo é o Swinging, onde balanças o bebé na vertical. Podes fazer movimentos verticais ritmados e suaves, (sempre sem deixares de a amparar assim como ao pescoço). Acciona-lhe os sensores de movimento e activa um reflexo calmante, como ele sentia no útero. Tal como tu ficavas empolgado, quando vias um trampolim em criança, ele também adora experimentar estas novas sensações.

Por último, se o teu bebé ainda não estiver calmo, avanças para o quinto passo, o Sucking, é sugar, onde podes dar-lhe de mamar para ele ficar tão calminho que vai acabar por cair num sono profundo. A sucção estimula o cérebro a libertar substâncias que acalmam e relaxam o bebé, pois a sucção não é só para o bebé se alimentar. Temos a sucção não-nutritiva que contribui para diminuir o stress. É uma das estratégias da exterogestação.  Nome complicado?

Eu explico! A exterogestação corresponde às primeiras semanas de vida do teu bebé, sobretudo, nos três primeiros meses após o nascimento e consiste num conjunto de estratégias que fazem o bebé associar a sua nova rotina ao conforto do útero materno. É a fase de adaptação do bebé ao espaço e à vida extrauterina, mas isso já é tema para outro artigo aqui no blogue!

Ainda estás aí, certo? Porque agora é que vamos entrar na segunda razão do choro. Aquela mais difícil de compreender porque infelizmente o bebé não fala e tens de ser tu a perceber o que é que se passa. Então, depois de já teres tentado tudo aquilo que te ensinei em cima e ele continua a chorar, é porque podem existir outras razões. Este tipo de choro ocorre por volta das 6 semanas de idade e apesar de geralmente ser explicado como sendo consequência de possíveis problemas físicos, como gases ou má digestão, ele também pode ocorrer por razões emotivas. O bebé pode estar sobrestimulado ou assustado com alguma coisa. Por exemplo, se durante o dia foi pegado por várias pessoas, pode estar a sentir stress e precisar de o descarregar através do choro.

Mas no caso de cólicas, não há nada mais eficaz do que a massagem feita por ti ou pelo teu companheiro.

Sou instrutora de massagem infantil e sempre que ajudo pais nos meus cursos a fazer este tipo de massagem, todos ficam rendidos, porque este método tem tantos benefícios para o bebé como para os pais.

No caso do bebé, ajuda-o a ter mais perceção do seu corpo, a melhorar a digestão, a criar mais laços com os pais, a sentir-se mais confiante, a aliviar prisão de ventre e possíveis dores da dentição, melhora a sua respiração e o sono e ainda reduz stress que o bebé possa ter acumulado.

Para os pais, o feedback que recebo é que começam a perceber muito melhor as pistas dadas pelo bebé, sentem-se mais confiantes e capacitados para desempenhar este papel da melhor forma possível.

No final, é uma WIN-WIN SITUATION, porque pais felizes criam bebés felizes!

-Paula Alexandra Oliveira-

enfermeira parteira

O que levar para a maternidade